7 de junho de 2009

CHOCOLATES DEBAUVE & GALLAIS






Este post é em homenagem a Marcella Ceva.




Debauve & Gallais, diferente de outros fabricantes, vem mantendo a tradição de confeccionar chocolates com muito pouco açúcar, relevando a qualidade do cacau. Eles muito se orgulham dos ingredientes superiores usados em seus produtos.

Debauve & Gallais usa somente o mais saboroso grãos de cacau, avelãs de Piedmont, nozes de Perigord, passas turcas, amêndoas espanholas, e o rum das Antilhas. Não usam preservativos, ou outros aditivos.

Em 1800 Sulpice Debauve, um farmacêutico do Rei Luis XVI, abriu sua primeira loja de chocolate em Paris, a margem esquerda do Sena em Saint-Germain. O chocolate de Debauve foi imediatamente apreciado pelas pessoas mais influentes da França.

Em 1816 Debauve foi designado o único fornecedor de chocolate das famílias reais francesas. A loja aberta em 1819 situada na Rue Saints Pères é, hoje em dia, um monumento histórico.

Debauve rapidamente expandiu e em 1804 já possuía 60 lojas pela França. Em 1823, ele se uniu ao seu sobrinho e a empresa passou a se chamar Debauve & Gallais.

Debauve & Gallais foi designado como o chocolateiro oficial de Luis XVIII, Charles X e Louis Philippe. Eles também abasteciam a corte russa, os czares preferiam os chocolates 99% amargos que saboreavam acompanhados de uma forte vodka.

Os chocolates em forma de moeda foram desenvolvidos para a Rainha Maria Antonieta para amenizar o gosto ruim dos remédios. Ela ficou tão agradecida que autorizou Debauve a confeccionar chocolates com o seu nome.

Debauve & Gallais é ainda um dos poucos antigos fornecedores da realeza da França. A família opera até hoje o negócio. Em 1989, Madame Paule Cuvelier assumiu o estabelecimento da Debauve & Gallais. Com a ajuda de seu filho, Bernard Poussin, Debauve & Gallais já expandiu seus negócios em todo o mundo: Nova York, Seul, Atenas, Dubai, Hong Kong, Pequim, Nanjing, Xangai, Chengdu.

EDITH PIAF




Édith Piaf nasceu em Paris, França no dia 19 de dezembro de 1915 e faleceu em Grasse, França no dia 10 de outubro de 1963. Foi uma cantora francesa de música de salão e variedades, mas foi reconhecida internacionalmente pelo seu talento no estilo francês da chanson.
Seu canto expressava claramente sua trágica história de vida. Entre seus maiores sucessos estão "La vie en rose" (1946), "Hymne à l'amour" (1949), "Milord" (1959), "Non, je ne regrette rien" (1960).
Participou de peças teatrais e filmes. Em junho de 2007 foi lançado um filme biográfico sobre ela, chegando ao cinemas brasileiros em agosto do mesmo ano com o título "Piaf - Um Hino Ao Amor" (originalmente "La Môme", em inglês "La Vie En Rose"), direção de Olivier Dahan.

Édith Piaf está enterrada na mais célebre necrópole parisiense, o cemitério do Père-Lachaise. Seu sepultamento foi acompanhado por uma multidão poucas vezes vista na capital francesa. Hoje, seu túmulo é um dos mais visitados por turistas do mundo inteiro.

Édith Giovanna Gassion nasceu em Belleville, um bairro de imigrantes da capital francesa. Sua mãe Annetta Giovanna Maillard, era de descendência italiana e cantava nas ruas e em cafés com o pseudônimo de Line Marsa. Seu pai Louis-Alphonse Gassion trabalhava no circo como contorcionista e tinha um passado teatral. Quando pequena, Édith foi deixada por sua mãe, por um curto período, com sua avó materna. Pouco tempo depois seu pai, voltando da guerra, encontrou-a enferma. Ele procurou sua mãe e pediu pra ela cuidar da Édith para ele poder voltar a servir o Exército Francês (em 1916).
A avó paterna de Édith na época trabalhava em um bordel, o que fez com que Édith tivesse contato com prostitutas e seus clientes, tornando-se ela mesma prostituta e o que ocasionou nela um profundo impacto em sua personalidade e visão sobre a vida. Aos seus 7 ou 8 anos, ela perde momentaneamente sua visão por razão de uma queratite.

Em 1919, quando seu pai volta da guerra, ele a busca e retoma sua vida artística como contorcionista. Édith o acompanha ajudando-o nas ruas e mais tarde em pequenos circos itinerantes. Não demorou muito ela já estava cantando pelas ruas sozinha. Aos 17 anos, Édith se apaixonou por Louis Dupont com quem teve uma filha, Marcelle, que morreu de meningite aos dois anos de idade.

Em 1935, ela conhece Louis Leplée, dono do cabaré Le Gerny's, situado na avenida Champs Élysées, em Paris. Foi ele quem a iniciou na vida artística e a batizou de "la Môme Piaf", uma expressão francesa que significa "pequeno pardal" ou "pardalzinho", pois ela tinha uma estatura baixa. Lepleé, vendo o quão nervosa Piaf ficava ao cantar, começou a ensinar-lhe como se portar no palco e disse-lhe para começar a usar um vestido preto quando se apresentasse, vestuário que mais tarde se tornou sua marca registrada como roupa de apresentação. Ele também fez enorme campanha para a noite de estréia de Piaf no Le Gerny's, o que resultou na presença de várias celebridades, como o ator Maurice Chevalier. Sua apresentação em cabarés possibilitou-lhe gravar seus dois primeiros discos naquele mesmo ano, um deles escrito por Marguerite Monnot, que Piaf acabou conhecendo no cabaré de Leplée e que se tornou sua parceira e grande e fiel amiga por toda sua vida.

No ano seguinte (1936), Piaf assina contrato com a Polydor e lança seu primeiro disco "Les Mômes de la Cloche", que se torna sucesso imediato. Mas em abril desse mesmo ano, Leplée é assassinado em seu domicílio. Piaf é interrogada e acusada de cúmplice, mas acabou sendo absolvida mais tarde. Ele foi morto por bandidos que tiveram, num passado não muito distante, laços com Piaf, o que gerou uma atenção negativa sobre ela por parte da mídia, ameaçando, assim, sua carreira. Para reerguer sua imagem, ela recrutou Raymond Asso, com quem, mais tarde, ela também viria a se envolver romanticamente. Foi ele quem mudou o nome artístico dela de "La Môme Piaf" para "Édith Piaf" e encomendou a Monnot canções que tratassem unicamente do passado de Piaf nas ruas.

Em março de 1937, Édith estréia sua carreira de cantora de música de salão, e se torna imediatamente uma grande vedete da chanson francesa, adorada pelo público e difundida pela rádio.

Ainda no fim dadécada de 30, Piaf triunfa na Bobino, famoso music-hall parisiense, assim como no teatro em 1940 na peça de Jean Cocoteau, Le Bel Indifférent, escrita especialmente para ela, e que a fez contracenar com seu então companheiro, o ator Paul Meurisse. Ela começa aí a conhecer pessoas famosas como o poeta Jacques Borgeat.

Na primavera de 1944 em Paris, ela descobre o jovem cantor Yves Montand que viria a ser seu parceiro e amante. Dentro de um ano ele se torna um dos cantores mais famosos da França. Piaf acaba desfazendo o relacionamento quando ele está perto de alcançar o mesmo sucesso dela.

Ainda em 1944 o pai de Piaf morre, e, no ano seguinte, ela também perde sua mãe.

Édith começa a escrever canções, sendo auxiliada por compositores na parte musical. Contudo, em 1945, Piaf escreveu, sem a ajuda de quem quer que seja, um de seus primeiros títulos: "La Vie en Rose" (gravada em 1946), é a canção mais célebre dela e tornou-se um clássico.

Durante esse tempo Piaf estava fazendo muito sucesso em Paris e em toda França. Após a guerra, tornou-se famosa internacionalmente, excursionando pela Europa, Estados Unidos e América do Sul. Entretanto, de início ela se deparou com pouco sucesso entre o público norte-americano. Mas, após a publicação de brilhante matéria de proeminente crítico de Nova Iorque, Piaf viu seu sucesso crescer ao ponto de sua popularidade levá-la a se apresentar oito vezes no Ed Sullivan Show e duas vezes no Carnegie Hall (1956 e 1957).

Vida amorosa

Édith Piaf teve vários romances. Os mais conhecidos foram com Marlon Brando, Yves Montand, Charles Aznavour, Théo Sarapo, Georges Moustaki e Marcel Cerdan.

Em uma turnê em Nova Iorque, em 1948, conhece o pugilista francês Marcel Cerdan, com quem inicia um tórrido romance. Marcel Cerdan vivia em Marrocos e morreu em acidente de avião em 28 de outubro de 1949 em um vôo de Paris para Nova Iorque, onde a iria reencontrar. Arrasada pelo sofrimento, Édith Piaf aplica-se fortes doses de morfina. Seu grande sucesso Hymne à l'amour e Mon Dieu, foram cantados por Édith em sua memória. Marcel Cerdan é tido como o grande amor da sua vida.

Em 1951, o jovem cantor Charles Aznavour converte-se em seu secretário, assistente, chofer e confidente. Ela ajudou a decolar sua carreira, levando-o em turnê pelos EUA e pela França e gravando algumas de suas músicas.

Em setembro de 1952 casa-se com o célebre cantor francês Jacques Pills, do qual se divorcia em 1956.

Começa uma história de amor com Georges Moustaki ("Jo"), que Édith lança para a música. Ao seu lado sofreu um grave acidente automobilístico no ano de 1958, e piora seu já deteriorado estado de saúde e sua dependência em morfina. Édith grava novo sucesso, a canção Millord, da qual Moustaki é o autor.




Já perto do final de sua vida, Piaf se casaria com Theophanis Lamboukas, um jovem grego, cabeleireiro de senhoras num salão familiar. Ela estava com 46 anos e ele apenas 23. Segue então um período em que as internações tornam-se constantes. Uma cura estava fora de cogitação. O fígado estava por demais enfraquecido e ela pesava apenas 34 quilos.




Aos quarenta e sete anos, Piaf aparentava ter mais de sessenta - a vida desregrada, as doenças e muito sofrimento haviam lhe cobrado um alto preço. Na quarta-feira, 9 de outubro, dia do aniversário de casamento com Theo, vertigens e calafrios obrigaram-na a ficar na cama até a hora do almoço. Voltou a deitar-se pouco depois, e não voltaria a descer mais.


Édith Piaf morreu em 10 de outubro de 1963 na localidade de Grasse aos 47 anos, com a saúde abalada pelos excessos, pela morfina e todo o sofrimento de uma vida. O transporte de seu corpo a Paris foi feito clandestina e ilegalmente e seu falecimento foi anunciado oficialmente em 11 de outubro em Paris. Édith faleceu no mesmo dia que seu amigo Jean Cocteau. Édith foi enterrada no cemitério do Père-Lachaise.





Não deixem de entar no site: www.bibi-piaf.com/

GALETTE DES ROIS




Na França, existe um costume antigo de consumir uma espécie de torta doce e recheada, a "Galette des Rois", em todo o mês de janeiro, e principalmente no primeiro domingo de janeiro, Dia de Reis.

Ao comprar a Galette em "Boulangeries" (padarias) ou "Pâtisseries" (docerias), o francês ganha duas coroas de papel. Essa tradição vem desde a época dos romanos, quando se colocava uma "fève" (fava) seca ou grãos de feijão dentro da torta para se escolher o "Rei do Dia". Quem encontrar a fava na sua fatia é eleito rei por um dia e tem até o direito de escolher a sua rainha. Atualmente, essa fava seca foi substituída por uma figura de porcelana.

É, com certeza, uma comemoração muito popular que faz a alegria de crianças e adultos.

A "Galette des Rois" francesa é preparada com massa folheada e recheada com um "Crème Frangipane" (creme de amêndoas), muito perfumado e delicioso, receita criada pelo pâtissier francês Pascal Regnault, especialista também em crepes, galettes e outras delícias francesas.

GALETTE DES ROIS

Ingredientes :

2 Massas folhadas,
200 gr de amêndoa em pó
100 gr de manteiga amolecida,
50 gr de açúcar
2 Ovos batidos
1/2 Cálice de rum (facultativo)
3/4 gotas de aroma de amêndoa.

Preparo:
Misturar a manteiga amolecida juntamente com a amêndoa em pó,

Juntar o açúcar e os ovos batidos e mexer bem,

Acrescentar o rum (facultativo) e as gotas de aroma de amêndoa, e misturar.

Colocar no congelador por 30 minutos.

Ligar o forno a 180º.

Estender uma massa folhada no tabuleiro do forno, deixando por baixo a folha de papel vegetal.

Misturar 1 gema de ovo com 50 ml de leite,

Com um pincel de cozinha, pincelar a massa folhada à volta (a largura da pincelada deve de ser de 2 cm.)

Espalhar o preparado no centro da massa até chegar ao nível das pinceladas,

Colocar uma fava ou um brinde.

Colocar a outra massa folhada por cima,

Fazer um buraquinho no centro (para a massa não estufar),

Pincelar com a restante mistura de gema de ovo e leite, com um garfo unir as 2 massas em toda a volta.

Fazer uma decoração com uma faca ou um garfo.

Levar ao forno por 30 mm.

Depois é só eleger a rainha ou o rei da noite !!!!

MUGUET




Na França é tradição no dia 1º de Maio oferecer aos amigos e familiares "un brin de Muguet" que segundo reza a lenda dá sorte a quem o receber. Esta flor também esta associada desde o século xx, às manifestações do 1º de Maio e não há desfile que se preze sem a florzinha na lapela.



É a flor emblema da Maison Dior.




Grace Kelly casou com um buquê de Muguet.




Cheirosa formada por cachinhos de pequenos e delicados sinos entre uma grande folhagem verde. Ela brota nos bosques franceses nos meses de Maio e Junho.

A crença que a flor do Muguet traz felicidade, surgiu no povo Celta. Para eles, o primeiro de Maio era o inicio do primeiro semestre do ano e era de bom agouro enfeitar-se com as flores colhidas no mesmo dia.


Na Idade Média os apaixonados pregavam Muguet nas portas da suas amadas. E durante a Renascença, o Muguet tornou-se o "portador de felicidade” nacional da França.

Nos dias de hoje, as manifestações dos operários, na Festa do Trabalho, popularizam ainda mais
essa tradição, fazendo da flor de Muguet um simbolo de esperança de melhores condições de vida.

CASSOULET







Cassoulet
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O Cassoulet é uma especialidade gastronômica de origem francesa da região de
Limousin, em especial das cidades de Carcassonne, Castelnaudary e Toulouse. Tem distintas versões, mas é feito basicamente com feijão seco e carne, principalmente o confit d'oie (confit de ganso), confit de canard (confit de pato),salsichas , lingüiça, carne de porco, e até carne de perdiz ou cordeiro dependendo da temporada do ano ou da variedade local.


Põe-se o feijão de molho algumas horas antes que depois é cozido em fogo baixo numa cassole, ou caçarola de barro, daí a origem do nome Cassoulet.

Três cidades,
Castelnaudary, Carcassonne e Toulouse disputam a origem e o título de melhor variedade do prato desde a sua origem, provavelmente durante a Guerra dos Cem Anos. Porém o cozinheiro languedociano Prosper Montagné diz que o Cassoulet é o Deus da cozinha occitana: em Castelnaudary é o "Deus-pai", o "Deus-filho" é o de Carcassonne, e o "Espírito Santo" é o de Toulouse.

Na França é muito comum encontrar Cassoulet já preparado em latas, variando o preço e ingredientes segundo a versão. As mais baratas contêm apenas feijão, molho de tomate, alguns pedaços de carne de porco e salsichas baratas. Preparações mais caras usam gordura de ganso e também podem incluir salsichas de Toulouse, carne de ganso, cordeiro ou confit de pato.

Existem várias maneiras de preparar:

Feijão à Cassoulet
Ingredientes
1 xícara (chá) de feijão branco;
2 colheres (sopa) de óleo;
3 sobrecoxas, sem pele (500 gramas);
2 lingüiças, tipo calabresas, cortadas em rodelas (150 gramas);
1/2 cebola, picada;
1 folha de louro;
1 tablete de caldo de galinha;
1 cenoura média, cortada em rodelas;
3 tomates, sem peles e sem sementes, picados;
Sal e molho de pimenta a gosto;
2 colheres (sopa) de salsa picada;
1 xícara (chá) de farinha de rosca.

Preparo

De véspera, deixe o feijão branco de molho em água.
Numa panela grande, aqueça o óleo e doure os pedaços de frango. Acresente a lingüiça e frite até começar a dourar.
Adicione a cebola. Quando estiverem levemente dourados, acrescente o louro, o caldo de galinha, a cenoura, os tomates e o feijão demolhado.
Refogue bem até todos os ingredientes estarem bem envolvidos.
Acrescente 1 litro de água e cozinhe em fogo brando, panela tampada, por cerca de 1 hora ou até o feijão ficar macio.
Tempere com sal e molho de pimenta. Se necessário, acrescente mais água quente durante o cozimento. Junte a salsa.
Coloque a preparação numa vasilha de barro ou refratária. Polvilhe toda a superfície com a farinha de rosca.
Leve ao forno médio (180 graus) por cerca de 90 minutos ou até a superfície dourar.
Sirva quente.

Dicas:
O Cassoulet é uma preparação típica francesa. Na receita original usam-se carne de pato, carne de porco e ave.

É prato principal completo que pode ser acompanhado por arroz branco ou purê.

Pode-se usar outras partes do frango em vez de sobrecoxa.

Sempre aos sábados, o Bistrô 66, de Claude Troisgros, promove uma farra do feijão franco-brasileira. A tradicional feijoada com couve, torresmo e muitas carnes é servida ao lado de um Cassoulet, que é reposto a todo o instante, com o salão invadido pela travessa de cerâmica com o pão tostado por cima e a “feijoada” francesa fervilhante por baixo.

ARNALDO JABOR FALANDO DE PROUST


Estou emocionado. Acabo de ler a última página de "Em Busca do Tempo Perdido", de Marcel Proust, "O Tempo Redescoberto". Sim, eu nunca tinha lido Proust, confesso, a não ser o primeiro volume, "No caminho de Swann", mas depois deixei cair e não continuei. Pois nos últimos cinco meses não fiz outra coisa senão ler a obra completa de mais de 3.000 páginas e, agora que acabei, tenho vontade de começar de novo, como se a vida se me esvaísse e eu precisasse de novo alento. Fechei o livro como se perdesse um amigo. Como pude viver tanto tempo sem conhecer este grande herói da solidão da arte que nos ofertou sua própria vida, uma vida que ele viveu "fora" da vida mesma, solitário observador na malta de mundanos quando freqüentava a sociedade frenética dos salões da Terceira República francesa, ainda com os ecos do Segundo Império? Aquela sociedade, que era a perfeita lente de aumento sobre as paixões e vaidades rasteiras em sua aparente sofisticação, ali, antes e durante a Primeira Guerra, uma sociedade oscilante entre a aristocracia decadente e a burguesia afluente, num jogo de fascínio e desprezo mútuos, ali, no começo do anti-semitismo do século XX e das tragédias que iam culminar em Hitler e que deixou rastros até hoje. Proust ilumina o momento mais fecundo do modernismo, ele, um cubista dos sentimentos, sob o mesmo vento que batia em Joyce, Picasso, Freud, Einstein, vergado sob a relatividade do espaço-tempo, sofrendo a explosão do Sentido, a irrupção do Inconsciente. Mais que Joyce (perto de Proust, ele parece um frio fazedor de trocadilhos), ele inventa a literatura moderna.


Na vida que levo, comentando a vergonha de nossa política, em meio à decadência da arte, da cultura morna e paralítica, ao lê-lo, tive a sensação de alguma coisa relevante, alguma coisa que toca o "real" e que raspa o mistério sempre inalcançável da existência, a presença arrebatadora do sublime, no sentido que Kant deu à palavra, emoção que em literatura, que eu me lembre, só tive com Shakespeare e com a "Ilíada".O leitor vai torcer o nariz e perguntar, irritado com meu entusiasmo: "Mas, afinal, por que? Qual é a dele, desse tal de Proust, que dizem que era veado?" Não quero fazer filosofia barata em cima dele, pois ele escapa a qualquer síntese, como a própria vida. Mas acho que "a dele" era a seguinte: Proust encetou uma tarefa impossível - atingir o real. E a beleza trágica dessa impossibilidade acendeu a luz irradiante da obra. Ele busca a dissecação dos sentimentos pela poética, assim como Freud, na tradição científica. Proust fez a geometria das emoções, descrevendo ciúmes, amores, inveja ou medo com a nitidez de um teorema, com a limpidez de um mapa de geógrafo. Irritava-se quando diziam que ele era um microscópio dos detalhes, pois queria descobrir leis, regras fixas que resumissem a estrutura dos comportamentos.


Que imensa coragem a sua marginalização escolhida! Que solidão! O que fez esse homem ficar à margem da vida, vivendo-a, no imenso sofrimento de tudo ver e de nada participar, diante da feliz insanidade dos homens comuns, ele, uma bicha solitária em pleno preconceito dos anos 10, ele, com uma sensibilidade que doía a cada ridículo, ele que transformou a própria anomalia em arte total, ele que escreveu uma "Ilíada" interior, um Homero de aparentes irrelevâncias, sem fim nem começo, indo da infância até a morte num trajeto circular e recorrente, indo da natureza que examinava em detalhes até os salões de duques e príncipes, ele que se detinha nos irisados matizes de uma corola, desde o brilho róseo, lunar e suave das flores nos bosques até os tremores de cílios da vaidade, os lábios vorazes da glória mundana, a dentadura brutal do rancor, o esgar da inveja, o desespero da solidão sexual nos bordéis para masoquistas, a crueldade dos amores egoístas, o ciúme como tortura desejada, tudo em uma sociedade se contorcendo sob a luz negra da Primeira Guerra, Paris trêmula, com viciados sodomizando-se no breu dos túneis do metrô, sob as bombas dos aviões alemães, a bravura sem prêmio de soldados, a covardia de duques arrogantes, o horror do caso Dreyfus dividindo a sociedade em anti-semitas e democratas, o ridículo profundo que ele analisava com compaixão e sem dele se excluir, ele, que tudo via, com uma mente de Dante, de Homero, com o olho feminino e atento tanto para as nuances do vermelho Carpaccio das sedas da duquesa e dos azuis Veronese de um robe de Fortuny, como para a morte latejando nas artérias de príncipes envelhecidos nos salões, e sempre imolando a vida à arte, querendo deixar algum vestígio no Tempo, pensando não em leitores que o aprovassem, mas, generoso, para criar "leitores de si mesmos" (como ele escreveu), para ser uma espécie de lupa que lhes desse meios de se lerem. Essa é a sensação de vazio que me toma. Enquanto eu o lia, eu me lia, estava perto de verdades profundas, aparentemente tão rasas e mundanas. E agora que acabei, penso: "Que será de mim sem ele?" A mediocridade geral da República volta como uma maré suja, as notícias do erro nacional, as imagens da feiúra, a morte da beleza batem à porta.


Escrevo este artigo com sentimento de culpa (vejam vocês), pois estou falando de Proust em vez de Renan Calheiros... Que vão pensar de mim? Imagino o leitor: "Será que ele está querendo se exibir, bancar o culto? Como ousa falar de alguém ’artístico’ neste mundo em que a superficialidade da arte e da cultura está na razão direta da complexidade crescente da tecnociência?


É verdade. Talvez seja um pecado falar essas coisas. Proust vive em um mundo acabado, no início do século XX, quando ainda havia a extraordinária importância da arte, da pintura, música, literatura. E havia alguma esperança de Sentido, quando esse "sentido" já se esvaia e os grandes artistas do modernismo tentavam salvar o afogado. Talvez o maior êxtase de ler Proust resida em nos lembrarmos de como era a beleza, como era a esperança na arte.


E tem mais: nós não estamos no futuro desse tempo passado, não. Com todo o progresso da informação e da tecnologia, nós somos sua decadência.


Arnaldo Jabor,Publicado em 26/11/2007

EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO - MARCEL PROUST


Marcel Proust nasceu em Auteuil, subúrbio de Paris, em 1871. De saúde frágil, teve uma infância cheia de cuidados. Durante a adolescência, viveu nos Champs-Élysées, em Paris, onde o ar saudável lhe ajudava a diminuir os efeitos da asma. Em 1891, ingressou na Faculdade de Direito da Sorbonne; preparou-se para seguir a carreira diplomática, da qual desistiu para dedicar-se à literatura.
Seus primeiros escritos datam de 1892, quando, com alguns amigos, fundou a revista Le Banquet. A seguir, passou a colaborar em La Revue Blanche, freqüentando ao mesmo tempo os salões aristocráticos parisienses, cujos costumes forneceram material para sua obra literária, iniciada com Os Prazeres e os Dias (1896).

A morte da mãe, em 1905, fez dele herdeiro de uma fortuna razoável. Com a saúde cada vez mais debilitada, Proust acaba isolando-se dos meios sociais para dedicar-se exclusivamente à criação de Em Busca do Tempo Perdido, publicado entre 1913 e 1927, em oito volumes: No Caminho de Swann, À Sombra das Raparigas em Flor, O Caminho de Guermantes (1 e 2), Sodoma e Gomorra, A Prisioneira, A Fugitiva e O Tempo Redescoberto.

Seu romance é tido por consenso como um dos maiores não apenas do século passado, mas de toda a história da literatura.

Proust morreu em Paris, em 1922.