22 de maio de 2009

JR


Depois de ler na imprensa sobre a morte de três jovens no Morro da Providência, o fotógrafo francês JR decidiu que ali seria sua próxima parada entre os lugares de que ouve falar pela mídia, e que busca conhecer com os próprios olhos. No morro, ele entrevistou e fotografou mulheres de todas as idades e, depois de bater de porta em porta, conseguiu colar seus rostos ampliados nas fachadas das casas de seus vizinhos, modificando a paisagem do local.


No começo, os moradores não perceberam o impacto. Depois, voltando do trabalho, eles começaram a ver o morro modificado e se deram conta de que era uma obra para ser vista pelas pessoas de fora - conta JR.

Oito meses depois, o francês de 26 anos, com ascendentes na Tunísia e no Leste Europeu, está de volta ao Rio. Ele leva os rostos da Providência à exposição "28 milímetros - Mulheres", que vai reabriu a Casa França-Brasil após reformas. As imagens também já estampam os Arcos da Lapa e as fachadas da Sala Cecília Meireles, do Teatro João Caetano e da própria Casa França-Brasil, no Centro. - Agora, o povo lá de baixo vai subir - brinca JR, do alto da laje do centro cultural, com vista estonteante da cidade.

O fotógrafo viaja com o dinheiro da venda de suas fotos - este ano, uma delas atingiu 26.250 libras num leilão da Sotheby's, em Londres. Já fotografou na Libéria, na Índia, no Camboja, no Quênia, no Oriente Médio. O projeto "Mulheres", que trouxe JR ao Rio, começou em Monróvia, na Libéria, e já passou por Nova Déhli e por uma favela queniana de Kibera - o único lugar onde, em vez de papel, as fotos foram impressas em vinil, sendo usadas como tetos das casas, antes sem proteção.
Aqui, os moradores da Providência, além de olharem para o público nas fachadas pela cidade e na exposição, poderão ver a reação dos convidados da inauguração na Casa França-Brasil, através de uma câmera que transmitirá o evento para uma mercearia do morro. Muitos estarão na abertura, onde as mulheres retratadas vão autografar os livros, e uma delas, Roberta Gomes, será a monitora durante todo o período da mostra - que seguirá para Londres, em outubro. E no sábado, na inauguração da exposição das crianças da Providência, eles também esperam ver o "público" no morro.
(Parcial de uma matéria do Jornal O Globo).

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