13 de maio de 2009

MARIA ANTONIETA - PARTE 2


Vinte e um de abril de 1770. Cinquenta e sete carruagens ricamente aparelhadas, conduzindo um número mais de duas vezes maior de dignitários e puxadas por um número seis vezes maior de cavalos, haviam enchido o majestoso pátio central do Hofburg (Áustria) desde o amanhecer.
Quando a família imperial saiu do palácio às nove horas, a multidão abriu caminho para Maria Teresa, a corpulenta imperatriz da Áustria e rainha da Hungria, de 52 anos que repetia a frase particular que Maria Antonieta já ouvira muitas vezes: "Que outras nações façam a guerra; tu, feliz Áustria, alcanças teus feitos pelo casamento".

O aforismo era perfeito para a ocasião dessa manhã, que celebrava um dos mais audaciosos feitos diplomáticos da Maria Teresa até então. Esse plano envolvia o casamento de Maria Antonieta com o delfim Luís Augusto, o neto de quinze anos do rei Luis XV da França e herdeiro do trono Bourbon.


O ministro mais confiável e influente de Luis XV, o duque de Choiseul, trabalhou diligentemente em apoio ao plano, e após anos de delicadas negociações os dois países concordaram formalmente com o casamento. Agora, nessa manhã de primavera, Maria Antonieta deveria partir para a França em triunfo, um emblema vivo da política exterior da mãe.


Uma bem vestida loura arruivada, com grandes olhos azuis, faces rosadas e porte gracioso, prejudicada apenas por um lábio inferior proeminente que a identificava como membro do clã Habsburgo, a futura noiva tentava conter as lágrimas ao se preparar para deixar sua família e seu lar, acotovelada por centenas de vienenses que, tendo vindo lhe desejar boa sorte, a cumulavam de buques e outras lembranças.


Desde o seu noivado, no verão anterior, ela vinha trabalhando intensamente com o legendário bailarino e teórico do balé francês Jean-Georges Noverre. Na corte de Versalhes, as damas não andam – elas deslizam. Os espartilhos de barbatana de baleia causam dor e os saltos dos sapatos são altos, mas elas flutuam como seus corpos não pesassem.


Mesmo para uma futura rainha, o enxoval que Maria Antonieta acumulou era espetacular. Suas sessões de provas com os fornecedores de moda parisienses baseavam-se no pressuposto que, na famosamente refinada e exigente corte de Versalhes, o vestuário era a moeda de aceitação social e sobrevivência política. Na verdade, ninguém menos que o duque de Choiseul, o mais forte defensor da união Habsburgo-Bourbon na França, que estipulara a inspeção do guarda-roupa da arquiduquesa como uma precondição para o casamento. O próprio Luis XV deixara claro que não faria uma proposta de casamento em nome do neto sem primeiro averiguar se Maria Antonieta era atraente o bastante para honrar sua corte. Como Choiseul sabia muito bem, o rei era um notório mulherengo, que havia negligenciado sua falecida esposa, Maria Leczinska, em favor de uma série de amantes chamativas.


A imperatriz não poupou nenhuma despesa para tornar a filha uma noiva Bourbon visivelmente digna. Numa época em que o guarda roupa de toda uma família francesa da classe trabalhadora tinha um valor médio de 30 libras, e em que um guarda-roupa coletivo de um rico casal aristocrático valia algo entre 2 a 5 mil libras, Maria Teresa gastou assombrosas 400.000 libras com o enxoval da filha caçula.Todas as peças compradas haviam sido confeccionadas na França.
Choiseul sugeriu também alterações no físico da arquiduquesa. Ele notou que os dentes da menina eram lamentavelmente tortos. Foi convocado um dentista francês para empreender as necessárias cirurgias orais. Embora as intervenções, realizadas sem anestesia, tenham sido extremamente dolorosas e exigido três longos meses para completar, a arquiduquesa foi recompensada com um sorriso “muito bonito e regular”.


Havia algo também a ser feito com o cabelo da princesa. A massa indisciplinada de cachos louro-avermelhados de Maria Antonieta era habitualmente puxada para trás da testa por uma áspera faixa de lã que se esgarçava contra o cabelo. Esta faixa estava começando a causar feias manchas calvas ao longo do contorno do couro cabeludo; o que era pior, ao criar uma alta “montanha de cachos” no alto da cabeça da menina, o penteado acentuava o que as autoridades francesas viam como uma testa inaceitavelmente alta. Para cuidar desses alarmantes problemas, Larsenneur, que servia como cabeleireiro da própria rainha de Luis XV, veio em seu socorro. Domou os cabelos da princesa em um penteado baixo, escovado para o alto da cabeça. A aparência resultante suavizou sua testa proeminente, salvou-a da progressão da calvície e alinhou-a imediatamente com as convenções de Versalhes.

Aos 13 anos, Maria Antonieta já se tornara uma lançadora de tendências da moda atentamente observada e avidamente copiada.

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